quarta-feira, 22 de abril de 2009

Desequilíbrio II

Anjos se desequilibram.

Tatuam o braço e cortam os cachos, leem Sade e tomam whiskey, e reencontram Deus.
Não querem a ignorância pálida dos querubins loiros de olhos azuis, gostam mais dos serafins ruivos de olhos castanhos. Os que namoram viúvas de terceira idade e criam vira-latas sem coleira, os melhores mascotes que se pode ter.

Moram de aluguel e pagam o mínimo do cartão de crédito, andam de metro para dar descanso as asas. Anjos perfumam suas asas, contando as penas que caem dia após dia.

Anjos possuem uma ar blasé quase insuportável, gostam dos pés das estátuas e dos homens que as fazem. Anjos não tem sexo, mas adoram sexo.
Falam várias línguas e praticam bhakti yoga. Bebem café e fecham os olhos pra sentir melhor o aroma. Dizem que lembra o céu, mas eles não sentem assim tanta falta do céu.

Anjos preferem morrer um pouco a cada dia na Terra.
Gostam de contrabaixo e lua cheia, de blues e punk rock. Odeiam Enya e preferem o som dos LPs, e sim, eles fumam pra caralho, mas detestam o cheiro que o cigarro deixa nas penas.

São amigos temperamentais, gostam muitas vezes de ficar sozinhos. Tomam remédios para dormir e sim, anjos tem pesadelos. Odeiam falar ao telefone e adoram comida Mexicana, aprenderam leitura dinâmica para rir da Comédia de Dante várias vezes por dia.

Dizem adeus sem olhar pra trás e detestam ver o dia amanhecer; usam anel no polegar e preferem as margaridas.

E não se engane. Anjos tropeçam, nem sempre são caídos.