segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Eros & Thanatus

Sem o amor, até o de mentira,

a vida é essa sucata de peças abandonadas.

Sem ritmo e sem harmonia,

como uma orquestra sem maestria.

Uma soprano desafinada,

um coração com marca-passo.

Um colo frio, sem você a se aninhar,

Um pedido de desculpas que nunca chegou a se falar.

terça-feira, 23 de julho de 2013

Animus necandi

Põe as mãos nas memórias e chora, e se pergunte entre os soluços por que a vida teima em bater e machucar.
E os olhos que de tão marejados não enxergam mais futuro, pois planos são voláteis, e a esperança é sorrir e falsear.
A cura vira uma busca calcificada em pedras paleolíticas, castigadas pelo tempo e pelos golpes de picaretas.
E o vazio volta, ele sempre volta, e toma conta de tudo.
E as ferramentas são guardadas para voltar a enferrujar o castigado metal, e a madeira começar a apodrecer.
Dor injusta e trapaceira, por que seu sabor é mais doce que o da paz?

Amor vincit omnia

Coração ferido, marcado, retalhado, bruto.
Desses que tem a sina de sofrer
Que não se aguenta dentro do próprio peito
E sangra, queima, perdido sem saber.

Que toma posse da alma e da razão
Se segura a duras penas nas veias
Pesa nos sonhos, ganha asas e as perde
Que todos os dias conhece o rir e o chorar

Não sabe nadar em lágrimas pois são tantas,
E tenta em vão subir e respirar
Fica a espera de um afago, um beijo
Um carinho e um colo morno.

E assim como a dor faz, me abrace.
Abrace meu coração como a solidão,
que se perde em rima rica, e não larga mais.
Que quer ser só sempre acanhado, vivendo nesse eterno caos bipolar.

Que fecha os olhos para sentir e ouvir o vento, em busca de suas mãos fortes.
Coração que gela e esquenta, estagna a água até apodrecer e estragar.
incendeia o que vê ao redor, inflama, ilumina...
Até uma hora cansar de arder.

Amarga e adoça, as vezes azeda, mas sem culpa, sem maldade.
Vamos ser francos, coração: já não está na hora de parar de bater?

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Ab imo pectore

Deixo as ensolaradas tardes para os bens de vida e pobres de trabalho.
Deixo as noites mal dormidas para os que trabalham demais ou são apenas infelizes.

Manhãs são incógnitas, como o clima que se revelará da janela ao alvorecer.
Há sábios que sempre buscam companhia, mal sabendo que nelas não se encontra o amor que tanto se busca.

Ser só é ser feliz em pequenos prazeres.
Alguns perfumes não se sentem por focarmos nossa atenção em outrem.
Os mais belos sons não se ouvem pela agonia do maldito diálogo que as vezes não leva a NADA.

O tumulto causa a ignorância da alma. Quando se ouve, sente, cheira, toca...falar é desnecessário.
Nosso inconsciente já formula frases demais, e nunca paramos para ouvi-lo. Para ouvir-nos.

Inspire, sinta. Expire, ouça.
E não chore quando finalmente perceber que ser só, pode ser a total dissolução dos seus problemas.

Ad astra per ardua

Os fluidos correm como perseguida presa a um predador. É a Morte, esperando paciente sua taça ficar cheia. Um litro e meio, nada mais, nada menos. Esqueléticas mãos se debatem e se flagelam pelo cálice, majestosamente repousado nas mãos Dela, a que perdura, a de sorriso infinito, pois o sangue não se esvai, apenas muda de recipiente.
E com ele toda uma profusão de sentimentos obtusos e conflituosos, retratos imperfeitos desenhados em papel borrão; fatos e lugares que importam ou não serem recordados ou terem realmente acontecido, e o que chamamos de Vida, tão frágil e fulgaz como fumaça, é tão capaz de fazer sofrer como ferro em brasa.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Inter Coetera Mundis

Se os olhos são o espelho da alma,
pobre da que se vê em um espelho partido.

Como vidro, uma vez quebrado não tem conserto,
me jogo em uma fornalha de sentimentos que
consome mais do que posso perder.

Meus passos são mais curtos que a vontade
de chegar a algum lugar, que eu não sei qual é,
nem como chegar lá.

E naquele vidro reflexivo quebrado, me vejo
uma em cada pedaço, e uma em pedaços,
igual as pinturas de Picasso

O que deveria ser indelével é tão fulgaz
quanto os desenhos que vemos nas nuvens.
O passageiro se torna o condutor da nossa
preciosa memória, sem descer na próxima estação.

Pobre do fogo, fadado a destruir tudo, menos ele mesmo.
Fadado a ser infinito até que o tempo ou o vento
decidam seu destino.

Se eu sou fogo, me dêem água.
Se sou água, me dêem o mar.

Se sou o mar, me dêem o direito de ser só.

Alma mater

Encara o mundo sem véu,
noiva do destino.
Encara a luz do Sol
sem o contorno achar.

Procuro tua luz, aurora.
Mas encontro tanta coisa
que não gostaria de achar.

Delimito teu espaço, alma minha,
mas você insiste em no meu corpo
não ficar.

Marcos versos em folhas, destino,
mas em que estante você poderá ficar?

Deixa-me dormir, ó Noite!
Pare já de ser confortante demais...